Durante seu passeio diário com seu cão, Eusébio (nome fictício) deparou-se com um senhor de seus setenta anos encostado na parede do galpão do Grupo Buscarioli, no bairro do Lanifício. Eram aproximadamente 18h30. O “encontro” era, de certa forma, esperado, havia indícios de que alguém havia urinado na rua, pouco antes da esquina que se antecipava ao trajeto de costume.
O homem estava visivelmente embriagado e razoavelmente bem vestido, com calça e camisa sociais, mas não era capaz de dar mais um passo sequer sem algum apoio.
Eusébio aproximou-se e perguntou se ele estava bem, embora a resposta fosse óbvia. Ele respondeu que não sabia onde estava ou como havia chegado ali, e precisava ir “no 73”, o que provocou nova pergunta: “— 73 de que rua, senhor?” E ficou ainda pior quando o homem disse “— Funil”.
Sem o seu aparelho celular, para procurar o que poderia ser o 73 no Funil, Eusébio sentiu-se tão perdido quanto o homenzinho. O que fazer?
Depois de outras tantas perguntas, foi possível saber que aquele senhor chamava-se Souza e queria ir ao Km 73 da Rodovia Prefeito Joaquim Simão, indicando que morava no “lixão”. Ele pediu para ser levado a um ponto de ônibus, garantindo que poderia se virar sozinho depois disso, porém, era evidente que em seu estado talvez não conseguisse sequer identificar o veículo que poderia levá-lo ao destino pretendido.
Eusébio sugeriu que ele se sentasse, na calçada, e aguardasse até que fosse possível lhe prestar o socorro necessário, principalmente porque seria difícil – ele pensava – que alguém desse a devida atenção aos apelos do idoso, considerando os efeitos do álcool e a falta de clareza de raciocínio.
Foi bom. O tempo foi suficiente para Eusébio conseguir um carro emprestado para levá-lo até o ponto de ônibus. Mas errou o local, levando-o até a Avenida Prefeito João Pires Filho (Marginal). Afinal, ele não tinha a menor ideia do percurso dos ônibus. Alguns jovens o ajudaram, indicando o ponto da Igreja Matriz, onde foi deixado com grande preocupação. Havia ali apenas uma senhora que não sabia se o ônibus para Igaratá passava por ali, e muito menos seus horários.
Naquele momento, Eusébio lamentou por ter seu celular em mãos, ou um tablet, ou notebook, ou mesmo seu computador de mesa. Certamente encontraria a informação na internet.
De volta à casa, e depois de devolver o carro a seu proprietário, Eusébio procurou informações sobre a Casa de Acolhimento. A saída do ônibus para Igaratá estava prevista para as 20h30, o que manteria o sr. Souza sozinho no ponto de ônibus até que o veículo passasse por ali. E sem garantias de que seria percebido pelo idoso. Melhor e mais seguro seria se ele pudesse passar a noite num abrigo.
Segundo uma amiga que trabalha na prefeitura, o endereço da Casa de Acolhimento havia mudado, mas provavelmente o número do telefone seria o mesmo. Entretanto, por azar, parece que naquele sábado nenhum telefone fixo estava funcionando na cidade. Todas as ligações retornavam uma gravação dizendo que “o número discado não existe“. Ninguém sabia informar o número de um celular de alguma assistente social ou se alguma delas estaria disponível. A informação também não foi encontrada no site da prefeitura.
Foi penoso deixar o sr. Souza à mercê da sorte. Ele estava muito agradecido, disse que Eusébio o tinha salvado e pediu que Deus o abençoasse, muitas vezes, mas ainda não tinha controle sobre si mesmo. Poderia cair ou levantar-se e ser atropelado, pois o trânsito era intenso na Avenida Manoel Ferraz de Campos Salles naquele horário.
Foram consideradas outras opções, como chamar um motorista de aplicativo e pagá-lo adiantado. No entanto, Eusébio se perguntava: “— Mas o motorista concordará em transportar um homem embriagado? O deixará no local correto? Como se comportará o sr. Souza?”
Se a cidade contasse com um guia completo, sobre tudo que existe dentro dela, qualquer pessoa com um aparelho celular – como os jovens que prestaram auxílio indicando o ponto da Igreja Matriz – poderia acessá-lo e encontrar as informações procuradas. Esta preocupação deve ser de todos os munícipes e amigos da cidade, pois estarão construindo uma fonte útil de informações para atender a toda e qualquer necessidade.
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